quarta-feira, 21 de abril de 2010

GEOMETRIA - DIFICULDADE OU MITO?

Para grande parte dos docentes, a geometria deve ser simplificada, evitando-se isolá-la como conteúdo inacessível; opinião compartilhada pelos discentes que a julga “chata” e misteriosa. Por conseguinte, o aprendizado é rodeado de pânico, e a barreira do entendimento esbarra na vergonha quando eventual dificuldade de aprendizagem é constatado.
Como proveito de tantos sentimentos péssimo que esta disciplina proporciona ao discente, reunido ao bloqueio em não dominar sua linguagem e não ter acesso ao seu conhecimento vem o sentimento de ódio pela geometria. Ódio, porque ela é difícil. Estes docentes também reconhecem que não são todos os discentes que odeiam geometria, já que existem os habilidosos e os competentes, porém estes são minoria. E a idéia de que só os mais inteligentes aprendem dos elementos da geometria, exclui e isola ainda mais os demais, considerados fracos ou sem habilidades matemáticas.
O sentido de que geometria seleciona os mais inteligentes pelos docentes tem propagação do sentido “não entre quem não souber geometria”, para Platão. A seleção natural referida por alguns docentes e educadores, também encontra propagação de sentido no aspirante excluso que se despojava desonrado do instituto Pitágoras. Esta desonra diante da incompetência de aprender geometria, mencionada por docentes e discentes, tem suas origens na própria história da geometria.
O corpo docente de matemática do ensino médio manifesta o sentido de jogar a culpa do fracasso dos discentes nas professoras de séries iniciais, pelo fato de estarem despreparadas ou por optarem pelo Curso de Magistério ao invés de um bacharelado em ciências matemáticas. Essa idéia emerge a impressão de que ensinar geometria também é para poucos.
O mito notabiliza-se no sentido histórico da dificuldade da geometria, sua origem, os primeiros ensinamentos, as primeiras reprovações de quem estuda e não aprende, em objeção ao inteligente e ao inspirado.
A imutável dificuldade conduz para um percurso sem saída. O contexto geral admoesta os discentes que a geometria demanda: calafrios, terror, pânico, medo e dor. A geometria também é reproduzida por bichos maus: bicho-papão, bicho feio e bicho de sete cabeças. Os sentidos que emergem destes bichos recaem novamente no pré-construído, pois geometria sendo difícil pode ser representada pelo: bicho-papão que dá medo, o bicho feio que assusta e o bicho de sete cabeças que tortura. A desmistificação do bicho papão proposta pela maioria do corpo docente recai novamente no mito. Desmistificar o mito da dificuldade, do não conseguir aprender. Como o trajeto para o saber da geometria parece sem saída, alguns discentes preferem livrar-se da geometria.O discente é bombardeado por todas estas informações, e reflete “como pode analisar desta disciplina?”, “O que ela guarda na sua memória?”, “Como este discente interpreta este saber institucionalizado como difícil?”, “Por que a geometria é considera difícil e não outro componente em sua esfera educacional?”, “Não seria porque é considerada útil?”, “Mas é útil para quem? Estas perguntas em suspensão podem nortear a análise do que diz o discente em situações de aprendizagem da geometria na escola.
Os discentes ao tomarem conhecimento que a geometria tem a fama de ser ruim, evidenciam o sentido de reprovação, que também é reconhecido pelo contexto geral. O mito que a geometria é uma disciplina difícil, o mito de que só aprende geometria quem é realmente inteligente ou de que seus segredos são apenas revelados para poucos escolhidos. A pretensão da escola é educar o sujeito para a liberdade e para ter autonomia, porém, conhecer os limites da própria razão deveria ser a preocupação da educação. A razão pode organizar o entendimento, mas a interação entre docente e discente deve estar pautada na sensibilidade. As ciências empírico-matemáticas estão longe de resolver todos os problemas, principalmente problemas de aprendizagem, os quais têm contribuído para o abandono de discentes da escola. Os efeitos dessa lógica, dessa organização do pensamento, interferem, não só nos resultados de avaliações, como também nas relações interpessoais de docentes e discentes.

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