terça-feira, 30 de novembro de 2010

Como me tornei professor

Durante o Ensino Médio, antigo segundo grau, me propus a fazer o curso de exatas pois tinha bastante facilidade com números e o privilégio de ter tido aulas com extraordinários professores desta área.Todos diziam que o importante era ter uma profissão,e a que mais eu desejava era a engenharia. Na época de vestibular,minha falecida mãe queria que eu tentasse medicina, mas sempre tive muitos problemas com sangue e sem pestanejar prestei o exame para engenharia.Prestei o vestibular num momento de muitas mudanças com a queda do muro de Berlim, a ruptura da União Soviética, a Guerra do Golfo e o Impeachment do Collor. O curso de engenharia estava de vento em poupa , quando surge a doença em minha mãe, um cancer de ovário que a levou em 9 meses. Nove meses mais tarde surge também a doença em meu pai , um cancer de fígado , que o levou em 3 meses. Quando, no olho deste furacão todo , meu professor de cálculo diferencial integral , me diz que eu não seria feliz como engenheiro , pois na visão dele , eu tinha muita facilidade para ensinar e aí troquei de curso, fui para a licenciatura.
Trabalhava na época em comércio e na faculdade, sempre surgia oportunidades de lecionar.Quando uma amiga chegou em mim e disse “ Rogério quer umas aulinhas de matemática na rede pública estadual”?Eu disse que sim !!!!Não tinha nenhuma experiência no magistério.Fui para a entrevista com a diretora com fé e coragem e ela me atribuiu as aulas.Ali eu descobri o que gosto e sei fazer de melhor: ensinar. A partir daí também ingressei na rede particular de ensino.Três anos após passei no concurso público para professor e me efetivei dois anos mais tarde.Dei aula para praticamente todas as turmas de Ensino Fundamental e Médio .
A memória das minhas experiências como aluno tem muito a dizer acerca do que penso sobre a escola, sobre o currículo e até sobre o modo de lidarmos com os alunos, ainda que reconheçamos que o tempo de agora é outro, que a estrutura familiar mudou, que com o advento de novas tecnologias como a informática, o mundo ficou muito mais competitivo e automático. Mesmo que recuássemos mais no tempo, a escola do passado é uma referência a que nos apegamos a partir da qual, de modo mais consciente ou menos, avaliamos e examinamos a escola de hoje, julgamos positiva ou negativamente a escola de hoje.
Essa memória que ainda nos direciona na nossa prática de ensino pelos caminhos que seguimos e pelos caminhos que evitamos. Isso tem a ver com cada uma de nossas escolhas didáticas, os recursos de que lançamos mão, o modo que organizamos a aula .Trata-se portanto de uma memória involuntária e mesmo inconfessada ou esquecida, por paradoxal que pareça, mas que incorporamos ao tomarmos parte de uma tradição ,reconhecemos que, por mais que a escola tenha mudado, que os tempos afinal são outros, a instituição escola mantém ainda vários traços do que ela era quando fui aluno.
Já perdi a conta das vezes que me perguntaram: “Por que você escolheu ser professor?” Quase sempre respondo que é porque vejo nesta profissão um caminho para melhorar o mundo que me cerca. De outro modo: vejo no “ser professor” a opção político-profissional que pode potencializar o meu inconformismo diante de coisas como a injustiça, a falta de liberdade e a falta de respeito.
Acredito que os pilares do meu ser professor possam ser:

O domínio específico (professor de matemática precisa saber matemática), o qual deve garantir ao docente sólida base teórico-conceitual, voltada para a compreensão da área de conhecimento que escolheu para fazer o percurso formativo, na condição de pessoa, trabalhador, cidadão, sujeito social.
O domínio metodológico, voltado para o saber ensinar, saber pesquisar e saber mobilizar informações e conhecimentos específicos e correlatos para solucionar problemas humanos e sociais verificados no entorno em que atua.
O domínio ético, o qual imprime propósito e sentido político ao “que fazer” docente ao justificar o trabalho no magistério na perspectiva de formar identidades e subjetividades de sujeitos sociais compromissados com a própria história, a ser pautada no desafio de transformar para melhor a realidade.
Esses domínios contribuiram para que eu tivesse ao meu ver, um professor profissionalmente melhor preparado, plugado com os acontecimentos do dia dia e sempre interessado com novas estratégias de ensino.
A aproximadamente dois anos ingressei num curso de especialização em educação matemática e ao terminar inseri-me no programa de mestrado com o foco em aperfeiçoar-me e buscar pesquisas que possam contribuir de forma significativa na minha prática docente.

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