sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Debussy

Claude Achille Debussy (1862-1918) nasceu em Saint-Germain-en-Laye e faleceu em Paris, vítima de um câncer. Pertencia a uma família de condições modestas, pois seus pais tinham uma loja de porcelanas e jamais estudaram música. Durante o episódio da Comuna de Paris ele e sua mãe se refugiaram em Cannes, onde Debussy teve as suas primeiras lições de piano. Tendo sido posteriormente admitido no Conservatório Superior de Paris, aprendeu as técnicas tradicionais do romantismo. Debussy não viria a ser um virtuoso pianista, conforme era seu desejo, no entanto seu interesse pela composição o levou para outros caminhos. Em 1880, se inscreveria no curso de composição e, após três anos, ganharia o segundo prémio do concurso "Prix de Rome", sendo, no ano seguinte, laureado com o primeiro prémio do mesmo concurso. Foi contratado para ser o pianista acompanhador da baronesa Von Meck, a mesma que protegia Tchaikovski. Isto lhe valeu viagens à Rússia, Itália e Áustria, além de fortuna, formação musical e bagagem cultural. Conheceu várias personalidades do mundo da música, como Wagner, por quem nutria especial admiração, e Liszt. Logo após seu retorno, seria entretanto obrigado, pelo Conservatório, a ficar dois anos na Vila de Médicis, em Roma, onde começaria a por em dúvida seus conceitos acerca do aprendizado musical que recebera, interrompendo assim sua estadia. De volta a Paris, igualmente interessado pela literatura e pela arte, iria participar activamente da vida social e intelectual da cidade, frequentando salões e cafés. No fim do século XIX, Paris era de fato o "centro do mundo e das artes" e toda esta vivência iria influenciar profundamente a sua produção musical. A vida de Debussy se dividia entre composição musical, concertos e soirées poéticas. Por possuir um estilo único, logo se destacou no meio musical, deixando fluir suas ideias, que se distanciavam dos padrões até então aceitos e consumidos pela sociedade. Chegou mesmo a negar-se a trabalhar para a Academia de Belas Artes, visto que a achava ultrapassada. Ganhou o Grand Prix de Rome em 1884 e, por volta de 1887, tinha começado a assistir às reuniões dos poetas simbolistas em Montmarte, lideradas por Stephane Mallarmé. A crença dos simbolistas era que aquela arte deveria atrair as sensações antes do intelecto. Visitou Bayreuth pela primeira vez em 1888 e esteve sob curta influência da música de Richard Wagner. Debussy também foi influenciado pelos pintores impressionistas franceses da época. As influências dessas duas escolas seriam cruciais no desenvolvimento do estilo musical do compositor. Manteve contato também com a música oriental, representada na Exposição de Paris de 1889. Ele acreditava que na música existiam elementos ainda a serem explorados e, por isso, concentrou-se na diversidade e nas emoções. Segundo ele: "Não existe teoria. É necessário somente ouvir. Prazer, esta é a lei". Em 1890, compôs os Noturnos, Prélude de l"après midi d"un faune e Suite Bergamesque. Apesar de serem consideradas três obras primas, Debussy só alcançaria algum respeito como compositor a partir de 1893, após haver composto, em 1892, sua ópera Pélleas e Mélisande, que estreou em Paris com grande sucesso, mas também gerou grande polémica. Em 1898, compôs Trois Chansons, utilizando-se de poemas de Charles d"Orléans, poeta do século XV. Mas estes não foram os únicos poemas musicados por ele. Verlaine e Beaudelaire também serviram de inspiração ao compositor em sua primeira fase, assim como Mallarmé, a quem dedicaria uma composição 20 anos depois. Entre as últimas peças que escreveu, a mais notável é a suíte sinfônica La Mer. Com três movimentos sinfónicos chamados sketches (esboços), o trabalho é uma impressão musical das visões e sons do oceano. Suas obras para piano incluem a suíte Childrens Corner (1906-08), 24 prelúdios em dois livros (1910, 1913) e uma coleção de 12 Estudos (1915). Composições para palco: a música incidental O Martírio de S. Sebastião (1911) e o balet Jeux (1912). Como composição orquestral, além das citadas acima, temos Images (1902-12). A música de câmara inclui: Syrinx (1913) e sonatas para violino e violoncelo. A música de piano de Debussy permanece famosa e os seus dois livros de prelúdios contêm o melhor das suas composições. Os títulos descritivos destas peças foram adicionados pelo compositor depois da conclusão deles: Footsteps in the Snow, título dado ao Prelúdios, Livro II: No. 6, é um exemplo bom da escritura evocativa de Debussy para o piano. Uma qualidade da música de Debussy é a ausência de temas principais. Suas peças perseguem o som puro, sendo este efeito o que impulsiona a sua música. Esta era uma idéia extremamente revolucionária para a época, já que, para ele, somente as emoções e os sons produzidos seriam importantes. Desta forma, ele redefiniria o uso da tonalidade, do ritmo e da harmonia, fazendo experimentações bizarras e estabelecendo correspondências misteriosas entre a natureza e a imaginação. A arte de Debussy encontra-se naturalmente ligada às correntes simbolistas e impressionistas, ainda que o compositor tenha se recusado a aceitar tais qualificações. A despeito de qualquer outra análise que possa ser feita, parece incontestável afirmar que as composições de Debussy afectaram muito o curso da música ocidental. Ele influenciou vários outros compositores, seus contemporâneos ou mesmo posteriores a ele, tais como: Ravel, Satie, Stravinsk e Bartók. Este último teria dito, em 1940, que Debussy lhe teria aberto novos horizontes para a harmonia e orquestração. Assim como os pintores impressionistas nos levam a pensar na França do século XIX, a música de Debussy nos remete à França dos primeiros anos do século XX, marcando o fim da era wagneriana.

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